sexta-feira, 11 de dezembro de 2009



Romeu: Só ri das cicatrizes quem ferida nunca sofreu no corpo.
(Julieta aparece na Janela)
Mais silencio! Que luz se escoa agora da janela? Será Julieta o sol daquele oriente? Surge, formoso sol, e mata a lua cheia de inveja, que se mostra pálida e doente de tristeza, por ter visto que, como serva, és mais formosa que ela. Deixa pois de servi-la: ela é invejosa. Somente os tolos usam a sua túnica de vestal, verde e doente: joga-a fora. Eis minha dama. Oh sim! é o meu amor. Se ela soubesse disso! Ela fala: Contudo não diz nada. Que importa? Com o olhar esta faltando. Vou responder-lhe. Não: sou muito ousado; não se dirije a min; duas estrelas do céu, as mais formosas, tendo tido qualquer ocupação, aos olhos dela pediram que brilhassem nas esferas, ate que ela volta-sem. Que se dera se fica-sem la no alto os olhos dela, e na sua cabeça os dois luzeiros? Sua faces nitentes deixariam corridas as estrelas, como o dia faz com a luz das candeiras, e seus olhos tamanha luz se espalhariam, que os passaros, despertos, cantariam. Vede como ela apoia o rosto a sua mão. Ah! se eu fosse uma luva dessa mão, para poder tocar naquela face.
Julieta: ai de min!
Romeu: Oh, falou! Fala de novo, anjo brilhante, porque és tão glorioso para essa noite, sobre a minha fronte, como o emissário alado das alturas ser poderia para os olhos brancos e revirados dos mortais atônitos, que, para vê-lo, se reviram, quando montado passa nas ociosas nuvens e veleja no seio do ar sereno.
Julieta: Romeu, Romeu. Ah! Porque és tu Romeu? Reneja o pai, despoja-te do nome: ou então, se nao quiseres, jura ao menos amor me tens!, porque uma Capuleto deixarei de ser logo!
Romeu: (á parte) - Continuo ouvindo-a mais um pouco, ou lhe respondo?

(Romeu e Julieta: Cena II) [ William Shakespeare]

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